A maior parte do ano de 2020 não foi nada boa para a Embraer. Resultados financeiros ruins no segundo e terceiro trimestre causados pela interrupção de encomendas e a desistência da Boeing em comprar a parte comercial da empresa marcaram o ano da empresa sediada em São José dos Campos, no interior de São Paulo.
Apesar disso, os dados do último trimestre foram positivos.
A receita líquida atingiu 9,8 bilhões de reais só nos últimos três meses, o que representa quase metade da receita inteira do ano, que foi de 19,6 bilhões de reais.
Esses três últimos meses garantiram também um EBIT e um EBITDA positivos de 406 e 783 milhões de reais respectivamente.
No ano, o EBIT ficou negativo, porém, em 523 milhões de reais, mas o EBITDA conseguiu encerrar 2020 com um resultado no azul: a empresa encerrou com esse indicador no valor de 473 milhões de reais.
Os resultados positivos desse quarto trimestre foram possíveis graças à volta das entregas de aeronaves. Mesmo que elas tenham sido menores em 2020 do que em 2019, o ritmo acelerou no fim do ano.
Apenas neste último trimestre, a Embraer entregou mais aeronaves do que o que foi entregue em todo o restante do ano.
De janeiro a setembro, foram 59 e de outubro a dezembro foram 71 aeronaves. O número é 35% menor do que foi entregue em 2019.
A pergunta que fica é se a melhora do quarto trimestre indica o início de uma recuperação verdadeira para a Embraer.
A empresa é uma das maiores fabricantes de aviões do mundo, ficando atrás apenas da Boeing e da Airbus, liderando o mercado de jatos comerciais de pequeno e médio porte.
O que é preciso levar em conta é que a Embraer que sairá da pandemia nos próximos meses é totalmente diferente da empresa que entrou.
Em março de 2020, a Embraer buscava escala, enquanto a Boeing buscava entrar no setor de pequenos e médios aviões. Com isso, fecharam um acordo de fusão.
Mesmo que de forma indireta, a pandemia atrapalhou os planos da Boeing, que já passava percalços com a novela do seu problemático 737 MAX.
A mega empresa americana teria que arcar com um alto valor para assumir o controle da parte comercial dos jatos da empresa, que hoje tem controle totalmente pulverizado, apesar de golden shares com a União.
Em abril de 2020, a Boeing abriu mão de comprar a parte comercial e a Embraer precisou se reinventar, gastando mais de 700 milhões de reais na reintegração administrativa e operacional. Tudo piorou com as baixas nas encomendas das companhias aéreas e deu no que deu: um ano no vermelho.
O analista Rodrigo Wainberg, analista da Suno Research, destaca alguns programas de cortes de custos implementados em meio aos processos de reintegração da área operacional.
"Em termos práticos a companhia mirou um downsizing de 30%. As demissões voluntárias e não voluntárias ultrapassam a marca de 2,5 mil. As dispensas trouxeram gastos não-recorrentes que impactaram bastante o 3T20 e ainda devem ter algum impacto no resultado do último trimestre do ano. Os pedidos adiados devem ser entregues em 2021 e 2022, aumentando consideravelmente a receita em relação a 2020. O ano de 2021 promete ser mais um ano desafiador, mas as margens já devem vir melhores, fruto das ações da administração", observa.
Na época, a Boeing alegou descumprimento de partes do contrato pela Embraer, que nega. Como teve prejuízos, a empresa pede ressarcimento de decisão por árbitros nos Estados Unidos.
Doze meses depois, o cenário que se desenha é muito mais otimista. As principais razões são: há uma tendência de as companhias áreas comprarem aviões menores, a Embraer tem posição de líder neste mercado e há expectativas do crescimento da aviação regional antes da volta dos circuitos internacionais no pós-covid.